O QUARTO

Não sei o porquê, desde que nasci fui alojado e alijado dentro de um quarto. As paredes foram revestidas por uma borracha flexível amarela clara. Queriam me proteger do mundo lá fora? Queriam proteger o mundo lá fora de mim? Nunca soube que tipo de ameaça representava. Quando a claustrofobia e o desespero tomavam conta de mim, atirava-me violentamente contra as flexíveis paredes e o quarto ainda era grande o suficiente para preparar uma corrida e tentava causar um impacto. Algo em mim era temerário. Por isso, fui contido?

Ali, entre quatro paredes, o espaço reduzia, a borracha endureceu, menos flexível agora, no meu desespero, quando me atirava contra as quatro paredes agora saia machucada. O recinto ficava menor e cinza como os meus dentes no espelho. A borracha que antes amortecia meus impactos, hoje é concreto que me arrebenta.

Todos os dias pergunto: o que há de errado comigo? O que ou quem me condenou a esta solidão?

Na exata medida do meu desespero , as paredes mais me confinam e me condenam.

Fujo pelo sonho e lá fora tudo está tão diferente das minhas últimas recordações.

Volto correndo para minha prisão, ou será que é o meu jardim secreto sem flores? onde hoje me sinto mais segura.

Escondido debaixo da cama, por um momento penso que morri e estou livre. Flutuo para o mundo fora de mim e no momento penso que foi um cochilo que tive e a vida continua igual à minha última lembrança. Tem algo como um manequim de vitrine parado, parece que à minha espera e o assumo como minha verdade física. Saio em busca de antigos risos, antigos amores.

Amei muito você, ouço. Ninguém consegue entender o meu tempo do quarto e digo então, o meu amor é presente.

Triste e só, volto para o meu quarto, minha prisão ou será que meu refúgio? Num simples giro sinto e apalpo cada parede que reduz com o compasso tempo. Totalmente inflexíveis, sufocam e me protegem e morro para o que está fora da gaiola.

Até que chegue o dia em que vinte e um gramas se desprendam e flutuo para fora deste espaço-tempo e de longe olharei um corpo inerte que experimentou tão pouco o mundo.

Afinal, quem me confinou? Por que a gaiola?