Nada o tinha preparado para a violência e para a força daquelas ondas. Um desejo sem fim, uma tortura que se aceita, um abismo impossível de evitar. Tem no corpo o sonho fácil e a carne quente.
Mergulhou de cabeça sem medos e sem receios. Cada passo dado foi voluntário. Se fosse hoje talvez não o fizesse. A ampulheta do tempo conseguiu apagar as incertezas e as dúvidas. Até os incêndios mais fortes acabam um dia por se apagar.
Percebeu finalmente que a tempestade tinha passado. Aquela loucura furiosa que lhe roía as entranhas tinha desaparecido.
A amargura do dia deixa lugar à vida, ao desejo de outras partilhas e à descoberta de outros corpos. Sorrir porque nunca será sombra por mais de um dia. Tem nos olhos a fome da luz, no corpo o tumulto e o abandono.
A pele inquieta está livre do vício de a ter.