Gipsy
Sempre que ela entrava em um avião fazia a si mesma a promessa que adiaria o máximo que pudesse a próxima experiência em voar, que "sossegaria". Algumas vezes chegou a pensar em nunca mais viajar novamente de avião. Que exagero, pensou em seguida. Tinha um certo pânico de voar, não somente na hora da decolagem e do pouso, mas durante todo o vôo. Medo bobo, infantil, ela reconhecia, mas quando lembrava que estava tão longe de poder pisar no chão sentia verdadeira agonia. E parece que quanto mais experiências de vôo tinha seu medo se agravava. Uma ansiedade sem fim, não conseguia nem servir-se das refeições oferecidas pelos comissários, bebia a água apenas. Fechava os olhos, tentava distrair o pensamento. Mas sem muito êxito. Tudo o que lhe vinha a mente nesses instantes era a sensação de tragédia e morte iminente. Imaginava o avião em chamas, as máscaras caindo ou uma das asas soltando-se bruscamente, as pessoas chocando-se umas com as outras...sua imaginação trabalhava cruelmente. Mas sua alma era de viajante, desde menina. Sonhava com terras distantes, danças e comidas exóticas, campos floridos e pastagens a perder de vista. Gipsy. Essa era a música de Shakira que ouviu poucos dias antes de viajar, com um suave toque de gaita, triste porém bonita. Sonhava com a Itália, e conheceu. Mas a Espanha, com sua dança flamenca e seu ar latino sempre a atraiu. Prometeu que esqueceria novamente seu medo de voar para realizar o outro sonho: conhecer Madri, Barcelona, e quem sabe os campos de Andalucia, lugar que inspirou Paulo Coelho em O Alquimista. Identificava-se com o alquimista, com sua história e suas preciosas lições. E o medo de voar desaparecia. E ela pensou: Nossos sonhos devem ser maiores que os nossos medos - e geralmente o são.