Antíteses

Ela se achava estranha, no mínimo "esquisitinha", ouvia ocasionalmente quando era adolescente. Não só pela aparência, seu jeito também. Complexo apenas? Talvez fosse só isso. Agora, na idade adulta, era uma jovem mulher, na casa de seus trinta anos.Era bem resolvida, os complexos foram cedendo à aceitação e reconhecimento de suas qualidades. Preferiu ficar sozinha. Isso sim seria visto com estranheza por muitos. Seria uma "crise dos trinta"? Talvez tenha apenas amadurecido. Não estava feliz e por muito tempo pensou que seria coisa passageira, afinal, a vida é mesmo assim. Altos e baixos, risos e lágrimas. Antíteses. Mas no seu íntimo sabia que isso não era passageiro. Lutava contra uma situação que não dependia de sua vontade. Algumas pessoas mantém relacionamentos apenas pelo fato de estar com alguém, por não saberem ficar sozinhas ou por conveniência. Algumas não tem coragem de assumir o que sentem de verdade, e passam a vida a enganar-se e por consequência enganar os outros. Quando sentimos estar em um caminho equivocado, errado é não ter coragem de mudar. Sim, foi isso que ela fez: seguir seu coração, seu estranho coração. Muitas coisas evoluíram na sociedade, mas ainda existe o preconceito. Ela sabe que não será fácil. Vai ser frequentemente julgada, excluída e até mesmo mal vista. Apesar de tudo, seu íntimo está mais leve. Se amar pela metade, é porque não é amor. Estar sozinha, de fato não gostaria de estar, mas de acordo com os seus princípios é o melhor, o mais sensato. Ainda que seja por toda a vida. Triste? Não necessariamente. Tristeza por tristeza preferia aquela que lhe desse a opção de viver algo em que acreditasse, verdadeiro, onde não perdesse sua essência, porque sabia que essa tristeza não lhe roubaria de si mesma, e seria passageira. A vida presenteia as pessoas que buscam viver a verdade, e ela já começava a colher esses frutos.