O Cortejo Fúnebre.
Acordei estranho.
Estou em um mar de flores murchas, e o sol é tão negro quanto a noite,
Sinto sede, mas o único liquido que tocam meus lábios são do suor de minha face.
Estou nu, sem vestes nem conhecimento, nem entendo onde estou, nem como fui trazido para cá, aos poucos sou consumido por minhas dúvidas.
Após várias horas de sofrimento, vejo ao longe um cortejo, parece um cortejo funebre, pessoas de expressões tristes, levam um caixão de madeira, algumas crianças correm a frente, e aos poucos até o céu começa a chorar, não sinto os prantos dos Deuses me tocar, talvez eu tenha sido condenado a um castigo doloroso.
Me aproximo das pessoas, e elas parecem não me notar, seguem seu caminho normalmente, uma mulher chora e grita aos ventos:
_porque o levastes meu Deus, ele era inoscente.
Eu já ouvirá aquela voz alguma vez antes, e também acho que conheço aquela face.
Tento aproximar-me dela, mas é inutíl, ela não pode me ver, talvez eles mesmos estão todos mortos, e não aceitam sua condição, ou eu que estou morto e não sei como.
Chego ao lado do caixão, um silêncio toma meus ouvidos, fico estático com o que vejo, nossa, não acredito!
Meus olhos tomam-se de prantos, desabo como a mulher que eu conhecia a voz.
Naquele imenso caixão, o que vejo são vários ursos de pelúcia, e ao meio um alma que mal conheceu a vida, e dela já se foi, um rosto de anjo, que adormeceu para um sono eterno, entendo a dor da mulher que perdeu seu feto, diante da luz sublime da existência.
Eu sofro junto a ela, talvez aquele fosse meu corpo, mas por enquanto vagarei sem respostas, até que encontre meu lar e meu descanso.
Ainda vejo-me perdido em uma estrada distante, sem saber se tudo não passa de um sonho ruim, ou se na verdade eu nunca existi, e sou somente a construção insana de um louco que quer fugir do seu corpo.
Não sei se aquele ser angelical sem vida, não é apenas uma simbologia de minha insanidade querendo me separar de minha infância, e querendo me fazer crescer.
Talvez aquela mãe que chora, seja a minha dor, de perder algo sem antes saber o que é, e ficar perdido no mundo desconhecido, atras de respostas que nem ao menos conhecemos as perguntas.
Ainda sou um anônimo, que desconhece seu corpo, face e existência.
Que Deus amenize a dor daquela mãe, ou me livre da loucura que eu talvez esteja.