"Auf Wiedersehen..."," Au revoir ..." - Em tom natalino

Natal de 1943:

Soldado alemão fazia a rotineira ronda pelos aceiros de um dos diversos campos de concentração de prisioneiros do nazismo. Ao longe viu um soldado francês encostado num tronco de árvore de pouca sombra. O alemão deu ordem para que o francês voltasse para os locais permitidos. Não houve reação então o algoz se aproximou, de arma em punho e antes que desse nova ordem percebeu que o francês estava absorto olhado sua própria carteira de documentos. Aproximou-se mais ainda e então percebeu que o objeto de tamanha abstração era uma velha foto desbotada onde apareciam um linda jovem e duas crianças. Quando os dois soldados se encararam o alemão percebeu ainda que uma lágria rolava sobre o rosto do francês. Ficaram os dois ali por alguns segundos totalmente inertes. Quando o francês fazia menção de retornar aos aposentos o alemão estendeu a mão aberta pedindo que esperasse. Ato contínuo, retirou de um dos bolsos uma pequena foto também com uma jovem e duas crianças. O espírito natalino reinou e mais uma lágrima rolou no rosto do francês, mas desta vez não só no dele. Guardadas as fotografias cada um seguiu se caminho, o prisioneiro ao seus aposentos e o guardião ao seu posto de sentinela. Após esse dia, os dois soldados se encontraram com frequência e até fumaram cigarros alemães. Jean e Klaus eram seus nomes e isso eles também sabiam. Mas a conversa não fluía muito, pois sendo ambos de origens humildes só entendiam seu próprio idioma. A despeito disso, certa vez, o francês ao despedir-se dizendo "Auf Wiedersehen", ouviu como resposta o tradicional "Au revoir" francês do seu "quase amigo" alemão. E a guerra seguia...

Fevereiro de 1944.

Apesar da boa vizinhança com o alemão as coisas não iam muito bem para o soldado francês. E a tendência era piorar muito, pelos motivos que o mundo todo conhece hoje. Então houve um tumulto e um grupo de prisioneiros resolveu arriscar-se em fuga. Jean juntou-se a esse grupo e no momento em que corria desesperadamente, justamente naquele momento, encontrou pela frente a arma de Klaus apontada para seu peito. Desviou o caminho mas não desistiu da fuga e continuou a correr. Klaus armou o gatilho e apontou a arma para a cabeça do seu "novo amigo", mas não disparou a arma, pelo menos na cabela dele. Apenas atirou naquela direção sem mira alguma... e com a propositada intenção de não acertar o alvo, mas transparecer que não fora omisso, apenas isso. E assim salvou a vida do "amigo", que graças a sua tolerância conseguiu fugir. Mas ainda assim a guerra continuava...

Natal de 1953.

Agora já não havia mais guerra. Klaus estava em sua casa terminando de decorar sua arvore de Natal numa pequena vila na Baviera, quando viu chegar na sua porta, à noitinha, uma família que não conhecia. A principio achou que se tratava de algum pedido informação. Quando o visitante falou "Guten Abend, her Shöen... her Klaus Shöen". E continuou num impecável alemão: "Eu sou Jean Claude, o prisioneiro que você deixou escapar naque dia. Essa é minha família. Estudei alemão durante quatro anos , descobri seu nome e seu endereço e vim especialmente para agradecer por tudo aquilo". E prosseguiu ainda: "Como não há nada no mundo que seja capaz de demonstrar nossa gratidão resolvemos lhes presentear com essa lembrança...". E estendeu-lhe um pequeno quadro com uma reprodução da foto que um dia mostrara ao alemão lá no campo de concentração. Os dois soldados e suas famílias se abraçaram comovidos e depois comemoraram a grande amizade que ali se consolidava...

----------------------------------------------------------

Baseado em um fato real relatado na revista Seleções em uma edição da década de 1970. Deixo de ser mais preciso por não possuir mais tal revista.