Fim de tarde
Desdobramentos em uma tarde comum. O sol atravessando a janela e criando um tapete dourado no piso do quarto. Os batuques da música causando trejeitos dançarinos, o incenso queimando lentamente, o silêncio do fim de domingo. Silêncio oco, mesmo quando interrompido.
Passam as gentes na rua, passam os pássaros cantarolando, passam os carros cantando pneus e passam também motos e caminhões distantes, emitindo os sons de uma maquinaria confortante. O som que está longe soa por dentro e, por um momento, tudo é sonoridade de motores e batuques. Mas nem por isso a calmaria é perturbada, nem por isso instala-se a insanidade. Samira estava escura por dentro, carregando um peito pesaroso de desgosto e saudade, mas aquele fim de tarde levou um pouco o insosso da tristeza. Ela também não perturbou o tempo com sentimentos de decadência. Nem aquele fim de tarde. Sentiu o tempo respirar aos poucos, sentiu o relógio irritado querendo acelerar o passo, mas nada poderia mesmo abalar aquela calmaria. Nem mesmo a dor sufocada de Samira.