“É boa, é sempre boa a mudança…”
Disse em tom triste para mim mesmo enquanto fumava à chuva na estação enquanto esperava um comboio que me levaria o mais longe que fosse possível…
E disse tal numa altura em que um mau momento se estava prestes a tornar numa sucessão de bons momentos, que começariam de facto quando partisse.
Podia ter ido de avião, mas tal era demasiado rápido, preferia uma partida mais lenta, pois encarava a mudança como uma espécie de descompressão, que se fosse feita demasiado depressa me poderia deixar sequelas que levariam imenso tempo a passar.
Assim a despedida seria feita aos poucos, e aos poucos faria o luto pelo que deixei para trás e aos poucos me iria habituar a uma nova realidade, literalmente nova porque não sabia para onde ia, iria ao sabor das diferentes terras pelas quais passaria, ficando naquela que me agradasse na altura de passar por ela.
Nem sequer tive o cuidado de me informar sobre possíveis destinos, pois isso iria estragar a magia de descobrir algo de novo.
Numa época da Web, na qual a informação sobre toda e qualquer coisa estava demasiado acessível, preferi uma partida, uma viagem “à antiga”…
Não partia nem de ânimo leve nem muito menos feliz, não partia para fugir, partia simplesmente porque precisava de uma mudança, de uma novidade, precisava de algo de realmente novo que desse um novo fôlego a uma vida que deixara estagnar, ou se quiserem, a uma vida à qual me acomodara, tanto que de repente deixei de me reconhecer…
Deixei coisas e pessoas de que gostava, mas que passara a gostar cada vez menos, a cada dia que passava, e assim antes que o afecto se tornasse em pura aversão tinha mesmo que partir, porque ao partir salvaria o que ainda podia ser salvo do que deixei para trás…
Doía, claro que doía, não doeria tanto se não gostasse do que deixava, mas a perspectiva do que iria encontrar e as saudades que sentiria pelo que abandonava tornavam a partida inevitável…
O comboio por fim chegou e antes de entrar ainda disse uma última vez, enquanto acabava de fumar o ultimo cigarro naquela terra
“É boa, é sempre boa a mudança…”
Disse agora em tom feliz, enquanto a chuva parava e no horizonte para onde me dirigia brilhava o sol, um bom augúrio que me fez sorrir ainda mais e limpar as lágrimas que não conseguira deixar de verter, pelo que deixava…
Um sorriso substituiu de vez as tais lágrimas e já em andamento disse
“É boa, é sempre boa a mudança…”
Mas desta vez apenas para saudar o futuro que acabara de abraçar…