QUINTAL

Meu jabuti tem nome feminino, mas confesso não saber seu sexo. Isto não deve ter implicações existenciais para o quelônio, posto que aparentemente suas preocupações sejam alimentar-se e tomar sol. Minhas conversas não parecem interessá-lo: ignora solenemente o que falo e trata de se retirar o mais rápido que pode rumo às sombras do jardim como se ali pudesse, longe da minha tagarelice, filosofar de forma segura na lentidão de seu existir e respirar. Seu mutismo e aquela autonomia solitária são exasperantes. Penso que o ruminar de um boi me fosse mais útil. Mas mesmo um boi, por dócil que seja, deve possuir suas idiossincrasias.

Cleo Ferreira
Enviado por Cleo Ferreira em 22/01/2014
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