MUITO ALÉM

Ser um barco à deriva talvez não seja tão ruim quanto pareça. Percebo certo olhar de desprezo das outras embarcações que por mim passam, cheias de passageiros, lotadas de algazarra. Disfarço minha indiferença com um leve movimentar de velas para que pensem que me importo com seus destinos: içadas num cais ao final de um dia. Se o sol me acompanha sigo-o também. Se alguma nuvem densa o cobre, espero pela possível chuva que ela trará como quem aguarda por um abraço refrescante da próxima onda a ser cortada. Assim vou singrando o acaso e mirando as marolas azuis. Quem sabe não me espere fina areia onde possa atracar?

Cleo Ferreira
Enviado por Cleo Ferreira em 25/09/2013
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