PRIMAVERA QUE NÃO VIRÁ
Redman martelando “Moonlight” no saxofone aumentava em muito sua tristeza. Melancolicamente olhava as luzes da cidade e não sentia, como num velho clichê, qualquer beleza naquilo. Havia algo de podre naquela solidão. Seu corpo doía por inteiro; ânimo alquebrado. Era como se tivesse envelhecido séculos numa única semana. Semana que guardaria para a eternidade de suas lembranças o instante em que a perdeu para uma doença qualquer que cismara vencê-los. Remou sapatos arrastados até a janela tentando contemplar ao acaso uma estrela na imensidão celeste. Voltou à mesa. Como se ignorasse sua agonia, Redman agora executava furiosamente Straight Ahead.