Quase queda
É como se eu estivesse na ponta dos pés ao meio-dia tentando tocar a lua. Eu simplesmente não consigo começar e por nunca dar início, jamais termino. Tudo bem se doer mais do que um beliscão, tudo bem se o efeito não passar tão rápido quanto a bula promete, tudo bem se eu trocar de idéia e voltar atrás no último segundo, tudo bem se eu não souber se eu estou ou não curada, tudo bem. Tudo bem se eu parar de esconder os meus dentes nos meus sorrisos, tudo bem se eu não aprender a chorar soluçado na frente de um conhecido, tudo bem se eu cair no meio da comemoração, tudo bem se eu tiver que devolver os meus troféus, tudo bem, eu não me importo. Eu só preciso parar de me equilibrar nesses degraus e parar de subir até o último andar toda vez que eu me lembro das inexistências. Eu sei a altura, eu sei os estragos, mas sempre que eu me deixo solta, acabo chegando perto demais do que nunca foi e não é fácil estancar a vontade de pular. Estico a perna e seguro ela reta no ar com urgência de ir, mas não posso dar impulso antes de tentar pela última vez. Tudo por causa das minhas travas, tudo por causa dos meus pensamentos que me levam para o sim e para o não num fluxo rápido demais. É hora de dar meia volta, é hora de descer pela escada e não pelo ar. Volta, vai.