Sozinha

A noite estava calma e silenciosa. A chuva deixara um frescor agradável no ar. Tudo parecia tranquilo, exceto pelo coração dela que gritava. Desde o começo ela sabia que não ia ser fácil… Conciliar sonhos que andam em direções opostas?! Praticamente impossível. Mas no fundo ela tinha esperança de que as coisas não fossem tão ruins assim, e de que aquele tal de amor poderia mesmo superar quase tudo. Ela queria chorar e se pudesse o faria, mesmo que piorasse ainda mais a situação, mesmo que demonstrasse fraqueza, mesmo que de nada fosse adiantar, ela só queria deitar na cama e chorar. Nunca se sentira tão só em sua vida, uma solidão estranha, que ainda não havia experimentado, solidão de quem deseja só, de quem gosta só, de quem ama só. Solidão de saber que quem está ao seu lado na verdade não está realmente tão ao seu lado assim. Vestiu uma saia e uma blusa, calçou um salto alto, enxugou o rosto, passou um rímel e saiu. Sem rumo, sem direção. Procurando algo que ela não sabia onde encontrar. Depois de andar apenas alguns metros, ela o avistou. Ele vinha apressado, quase sem fôlego. Ela baixou o olhar e as lágrimas vieram até seus olhos. Ele aproximou-se diminuindo o passo, enquanto ela fitava o chão. Ele levantou sua cabeça, segurando-a pela nuca e olhou diretamente em seus olhos, profundamente, como se tentasse ler sua alma. Por um instante ela esqueceu de toda solidão, de toda dúvida, de todo pensamento ruim que um dia já havia permeado sua mente. Naquele momento, ele realmente parecia um cara apaixonado. E ele falou, com uma voz doce e macia: ‘Para de pensar nisso… Para de pensar em tudo que te aflige o coração agora. Eu estou aqui, e isso é o que importa. Eu estou aqui porque você é importante pra mim. Estou aqui porque nada do que você diga em qualquer momento de raiva vai mudar o que eu sinto. Olha pra mim… Eu te amo!’ Então ele aproximou-se um pouco mais e envolveu-a em seus braços, o coração dela a palpitar de alegria, um sorriso já principiando a surgir nos seus lábios….

Foi quando ela acordou. Olhou ao redor, e nunca tinha sentido o quarto tão frio, tão solitário… A cama ainda feita, a televisão ligada pra ninguém, no celular nenhuma mensagem… Tudo continuava igual. Exatamente igual. O frescor da noite ainda entrava pela janela aberta. Ela chorou.

(12 de Maio de 2008)