ALGUNS PASSOS A MAIS

Comeu às pressas, em pé, junto do balcão. Jogou uma nota amassada na direção do cara que o atendeu e nem esperou pelo troco. Na calçada ficou indeciso entre seguir à esquerda ou à direita. Ao invés, atravessou a rua e seguiu em frente. Uma garoa muito fina começava incomodar. Puxou o casaco e colocou as mãos nos bolsos, protegendo-as do frio repentino. Jogou um chiclete na boca para disfarçar o gosto do café e chutou uma lata vazia. Consultou o relógio de rua. Ainda tinha algum tempo. Olhou um cartaz na fachada decadente de um prédio decadente do que outrora até poderia ter sido imponente: uma atriz exibia, convidativa, o corpo nu acima de um título de filme qualquer. Passou a nota ao cara da bilheteria que devolveu, indiferente, um tíquete. Passou a catraca e seguiu por um tapete vermelho puído rumo à sala escura.