Meu pequeno conto sobre uma janela

Passo mais tempo nessa mesa do que em qualquer outro lugar. E o que me resta, é olhar pela janela. Dia azul, dia nublado, chuva, sol, vento, sonhos e esquecimento. Contemplo tudo, com vontade passar por dentro dela, que está escancarada. Não posso. Torno a me virar e continuo numa frenética busca pelo êxito. Da vida, de qualquer coisa, contudo, um êxito. Mas a janela teima em chamar a minha atenção. Quase posso ouvi-la dizendo “Ei, perca seu tempo com outra coisa, perca seu tempo se perdendo, ou se encontrando”. Não posso. Estou preso a uma mesa e cadeira, quase como um deficiente, não físico, mas da alma. E ela percebe isso. E me presenteia com o mesmo belo pôr-do-sol, indiferente a qualquer estação do ano. E nas chuvas, deixa escorrer as gotas, talvez como lágrimas, indecifráveis, assim como todo e qualquer sentimento. Não me prende, tampouco me liberta. Apenas está ali, emoldurando tudo o que posso e tudo o que devo. Há uma observação mútua. Uma tênue linha da realidade e utopia. Doses cavalares de um devaneio qualquer. Vão dizer que é coisa de coração partido. No momento, prefiro as cicatrizes neste velho peito, a ver minha janela partida. Que continua ali, onde sempre vai estar. Aonde sempre vamos nos encontrar.

Inspirado livremente numa história qualquer, de um lugar qualquer…

Rafa Lima
Enviado por Rafa Lima em 18/03/2012
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