Meu pequeno conto sobre uma janela
Passo mais tempo nessa mesa do que em qualquer outro lugar. E o que me resta, é olhar pela janela. Dia azul, dia nublado, chuva, sol, vento, sonhos e esquecimento. Contemplo tudo, com vontade passar por dentro dela, que está escancarada. Não posso. Torno a me virar e continuo numa frenética busca pelo êxito. Da vida, de qualquer coisa, contudo, um êxito. Mas a janela teima em chamar a minha atenção. Quase posso ouvi-la dizendo “Ei, perca seu tempo com outra coisa, perca seu tempo se perdendo, ou se encontrando”. Não posso. Estou preso a uma mesa e cadeira, quase como um deficiente, não físico, mas da alma. E ela percebe isso. E me presenteia com o mesmo belo pôr-do-sol, indiferente a qualquer estação do ano. E nas chuvas, deixa escorrer as gotas, talvez como lágrimas, indecifráveis, assim como todo e qualquer sentimento. Não me prende, tampouco me liberta. Apenas está ali, emoldurando tudo o que posso e tudo o que devo. Há uma observação mútua. Uma tênue linha da realidade e utopia. Doses cavalares de um devaneio qualquer. Vão dizer que é coisa de coração partido. No momento, prefiro as cicatrizes neste velho peito, a ver minha janela partida. Que continua ali, onde sempre vai estar. Aonde sempre vamos nos encontrar.
Inspirado livremente numa história qualquer, de um lugar qualquer…