Pensata I
O sucateiro chegou na rua. Olhar afiado, já enxerga a latinha de cerveja escondida no matagal alto. Aguenta a provocação da meninada. Divide a rua com os carros, metade deles na calçada. Portão sim e portão não, cachorros põem-se a latir. Alguém finalmente lhe deu um "boa tarde".
O velho apoiado no muro pergunta se ele só pega coisas pequenas. Amanhã, quando vier com sua carroça, pegará a bicicleta quebrada da netinha do homem.
Os esqueletos de pipas nos fios dos postes balançam, o vento mudou de direção. Ele aproveita o momento ameno e reflete: a sucata mais preciosa hoje em dia é o respeito. Depois escarra no chão e sobe a ladeira, quase arrastando o saco de bugigangas.