Na Sombra de Deus…(Conto baseado em factos reais…)
No final da década de 30 um homem descobriu na física o princípio do poder absoluto das estrelas, apercebeu-se dessa descoberta e ficou assustado com ela, com o que poderiam fazer dela, uma descoberta que revelava a sombra mais tenebrosa de Deus…
E foi então que Ele percebeu o que tinha descoberto e o que poderia fazer, ou que outros poderiam fazer por ele, e ao perceber tal teve uma visão aterradora do futuro…
Tinha descoberto o segredo da força destruidora dos Deuses, tinha percebido a sua essência, e pior do que isso, percebeu o que os homens poderiam fazer disso e com isso…
E foi então que ele viu um futuro no qual não viveria…
Um mundo onde o seu nome estava atribuído a algumas das mais prestigiadas ruas e universidades desse mundo, um mundo onde o seu nome seria o nome dos mais louvados prémios da sua área, e de outras porque considerariam as suas descobertas de tal ordem universais que o seu nome seria universal e estaria junto dos mais celebrados nomes da espécie humana, um mundo onde seria um exemplo de até onde pode chegar o génio humano, um mundo onde a sua vida teria sido celebrada e lembrada de uma forma absurdamente gloriosa, um mundo onde o seu exemplo de homem das ciências seria ensinado, onde a sua vida de pacato e dedicado marido e pai de família aumentaria a sua lenda, porque além de genial homem da ciência fora também um exemplar marido, pai e avô…
Mas viu também um mundo onde a sua arte fora tomada por outros homens com interesses e intenções bem diversos do seu, onde o poder do átomo revelara o que faltara revelar do seu lado negro quando este passa a estar ao serviço de homens que não são de bem, e usado na destruição em vez de na construção de um mundo melhor, onde a ciência seria vilipendiada e violada ao ponto de se transformar em algo de muito, muito perigoso…Um mundo onde a tentação entre possuir e o usar esse poder se esbatera de vez e soltara forças escondidas no interior de certos homens que acabaram por usar esse poder, o poder das estrelas no seu esplendor e assim ter destruído o que ainda havia de nobre no carácter da humanidade…Um mundo onde ele fora a chave involuntária que soltou esse lado negro…E assim o mundo em que era glorificado e louvado era uma pequena parte do Mundo global que mergulhara para sempre no ocaso, e que com o tempo desapareceria de todo e com ele a mesma humanidade que ele pensava ajudar quando descobrira o ultimo segredo dos Deuses, aquele através do qual se teve acesso, pleno acesso à força destruidora e não criadora dos Deuses…
O poder absoluto por vezes embriaga os homens, desvirtua os homens e faz estes cometerem actos de insanidade homicida, e ele sabia que de alguma forma fora uma das pontes para esse poder…
E ele viu esse mundo, viu o dia que vinha depois do dia de amanhã, e sabia que nada podia fazer para o evitar, apenas uma e aparentemente menor coisa…um acto isolado que faria toda a diferença, que faria com que os dias do amanhã continuassem a ser esses dias e não os dias do fim…
E assim quando estava prestes a ser alguém, a entrar na História, ele desapareceu sozinho, tornou-se invisível, desapareceu numa manhã de 1938 e nunca mais foi visto, foi a sua vitória contra o mal, foi a forma de desenganar o destino de glória que o esperava mas de trevas para a sua espécie…
E assim pelo amor à espécie esqueceu-se de si…desapareceu para sempre na tal manhã de 1938…
Nunca mais foi visto, o seu rasto perdeu-se na Europa que em breve mergulharia no ocaso da pior guerra da História, e os seus preciosos estudos que poderiam ter condenado essa história perderam-se na vertigem da guerra que estava prestes a começar…
E o seu nome hoje está apenas na memória de quem com ele conviveu, dos seus familiares ou de quem se apercebeu de que este homem que poderia ter mudado tudo para sempre desapareceu porque não gostou desse sempre…
E com a sua invisibilidade a humanidade ganhou um futuro, ganhou uma segunda oportunidade, enquanto ele perdera a sua, em prol da sua espécie que lhe ensinara não saber com certo tipo de dons que lhe são dados, que tinha o insustentável defeito de transformar o bem em mal e raras vezes o contrário…
O seu nome nada diz ao homem da rua de hoje, o seu nome nada diz a quase toda a humanidade, e o absurdo de nada dizer quer dizer que a ausência do seu nome permitiu a vida dessa mesma humanidade…
Noutro tempo, noutra realidade, este seu acto altruísta levaria a que o seu nome fosse referido como um exemplo a seguir, mas neste tempo a humanidade está demasiada perdida em si própria, nas suas imensas contradições para saber quem realmente lhe quer ou quis bem, ao ponto de se sacrificar por ela…
Vivemos pois tempos negros, demasiado…Tempos onde o carácter deste e doutros homens de bem se esbatem, são esquecidos a favor dos homens do mal, aqueles que fizeram com que ele optasse pelo ocaso em vez da glória…
E quantos de nós à beira da Glória estariam dispostos a abdicar dela se esta prejudicasse alguém...?