DONA IZABEL FEZ A COISA CERTA

No alto dos seus trinta e seis anos, ainda cheia de belas curvas e senhora de uma beleza provocadora de invejas, dona Izabel tomou a decisão de não querer mais companheiros para relacionamentos amorosos. Dizia não querer que homem nenhum encostasse a mão em seus filhos para judiar. Iria dedicar-se inteiramente às crianças, dando-lhes o melhor que a sua pobreza pudesse. E assim foi. Quando os meninos perguntavam pelo pai, como era e o que fazia, ela respondia: “seu pai era um homem lindo e muito valente, que defendia os pobres e os fracos, que era muito amoroso e vivia me presenteando, me enchendo de jóias.” – fazia isso e mostrava para as crianças vários colares, anéis e pulseiras, enchendo-lhes os olhos de brilho, fertilizando a mente dos pequeninos, fazendo-os pensar que eram ricos. Dizia ainda que o sonho do pai deles é que fossem advogados e médicos e que as crianças deveriam honrar a vontade do pai, se dedicando ao máximo.

Dona Izabel envelheceu, viu os seus filhos se formar, constituir famílias, lhe darem netos e os netos lhe darem bisnetos, mas não perdeu a lembrança da infância dos filhos, do tempo que escondia a verdadeira história da sua vida - que apanhava do marido, que havia fugido com as crianças por não suportar tanto sofrimento da parte de quem tanto amava e que suas jóias eram, na verdade, bijuterias. Ela sabia, no coração, que se falasse a verdade seus filhos trilhariam outro caminho: poderiam ser agressores, bêbados ou vagabundos. Dona Izabel, mentindo, fez a coisa certa.

Joh Valentin
Enviado por Joh Valentin em 16/05/2011
Reeditado em 21/05/2011
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