ÓCIO PENSANTE
São 35 minutos da madrugada. Um silêncio corrosivo me rodeia. Transfiro para tela do PC algumas letras do teclado, através de ruídos parecendo caroços de milho caindo dentro de um vidro oco de boca larga. Não quero regredir ao passado nem sentir segundos nascendo do futuro. Recuso-me a deitar, dormir, treino aeróbico para a morte. O presente está insosso. Nenhum vento assobiando pelas frestas da janela, nada. Nenhuma rasga-mortalha. Das minhas duas amantes, só a Solidão está aqui comigo. Cochicha ao meu ouvido – ela me excita a divagações: invasão de alcovas, poesias eróticas, coisas do gênero – que além e alhures, mademoiselles estão com o mesmo problema e, talvez até, pensando em mim. Rio, e indago-lhe: - Em mim? Um mísero mortal, que não tem nem onde cair vivo, porque morto se cai em qualquer lugar? Ela diz que jamais irá me abandonar. Enrodilha-se em meu peito sufocando-me e se cala. Olho para a tela. Tenho um relato do meu presente estado de espírito. Estou sem sono. Vou fuçar mais um pouco os intestinos da máquina eletrônica. Quem sabe, se não aparece uma visagem mal-amada e não me convida para um chacoalhar de ossos...
São 35 minutos da madrugada. Um silêncio corrosivo me rodeia. Transfiro para tela do PC algumas letras do teclado, através de ruídos parecendo caroços de milho caindo dentro de um vidro oco de boca larga. Não quero regredir ao passado nem sentir segundos nascendo do futuro. Recuso-me a deitar, dormir, treino aeróbico para a morte. O presente está insosso. Nenhum vento assobiando pelas frestas da janela, nada. Nenhuma rasga-mortalha. Das minhas duas amantes, só a Solidão está aqui comigo. Cochicha ao meu ouvido – ela me excita a divagações: invasão de alcovas, poesias eróticas, coisas do gênero – que além e alhures, mademoiselles estão com o mesmo problema e, talvez até, pensando em mim. Rio, e indago-lhe: - Em mim? Um mísero mortal, que não tem nem onde cair vivo, porque morto se cai em qualquer lugar? Ela diz que jamais irá me abandonar. Enrodilha-se em meu peito sufocando-me e se cala. Olho para a tela. Tenho um relato do meu presente estado de espírito. Estou sem sono. Vou fuçar mais um pouco os intestinos da máquina eletrônica. Quem sabe, se não aparece uma visagem mal-amada e não me convida para um chacoalhar de ossos...