ZÉ ENCRENCA MORREU SÓ
Havia um homem, morador da pequena cidade de Amizade que contrastava em beleza e com o próprio nome da cidade. Seu nome José Alfredo de Matos Moura e Camargo, vulgo Zé Encrenca. Reza a lenda que ao nascer quem chorou foi o médico. Era conhecido pela sua antipatia e pela facilidade de fazer inimigos. Com expressão séria e caraçuda, intimidava pelo olhar. Ao longo da vida tratou a todos com ignorância e desprezo sem se importar com sentimentos feridos nem mágoas guardadas. Humilhou, de maneira doentia, a todos quanto pôde e, na sua malvadeza, achava graça em ser como era. Mas o tempo pesou sobre Zé e ele envelheceu e não encontrou companhia para sua velhice (ninguém em sã consciência iria conviver com tão amarga pessoa).
Certo dia, para espanto de todos, Zé Encrenca recebeu a visita de um anjo que lhe disse:
_Zé, sei que você precisa e quer a companhia de alguém. Então venho propor uma coisa pra você.
_ Diga logo, não enrole, fale, fale – respondeu Zé a seu modo.
_ Vá até o bosque, pegue um coelhinho e cuide dele por uma semana...
_ É ruim que eu vou conviver com coelhinho peludo. Eu tou velho, mas sou macho – interrompeu.
O anjo retirando-se disse:
_ Se você não consegue nem conviver com um coelhinho quanto mais com seres humanos.
Zé Encrenca morreu só.