Eu NÃO sou poeta
Eu não sou poeta,
Eu não escrevo poemas,
Eu não crio poesias.
Você me pergunta:
O que faz aqui,
Se não escreve, é poeta?
Eu respondo.
Poetas escrevem com palavras
densas e profundas;
Poetas escrevem o que não é possível
ver no fundo do mar;
Poetas escrevem o que está
nas matas, nas florestas;
Poetas escrevem, de algum modo,
no brilho do sol.
E eu? O que escrevo?
Nada. Vários nadas.
Nada a ser dito, nada a ser escrito.
Cego lê fácil o meu texto.
Porque não tem nada de interessante,
são sempre os mesmos temas rasos,
de amor, decepção, desilusão, tristeza,
saudade e um fundo falso de social...
Escritos em versos tolos e desordenados,
que nem os decassílabos aprovam o que faço.
Eu deveria sentir vergonha
todos os dias por ter tido essa loucura
de pensar que algum dia
eu poderia escrever algo.
Se algum dia eu acreditei nas minhas palavras,
desculpe, mundo, mas eu menti
e fui metida várias vezes por essa ilusão
da juventude.
Sinceramente, você vai perder tempo com
as minhas escritas?
Se algum dia eu achei que nas minhas palavras
eu encontraria a beleza dos poetas...
eu estava realmente cega
em pensar assim.
Sinceramente, as minhas palavras nunca
tiveram algum valor, algum significado.
Com o tempo, fui deixando-as morrer
em pequenos pedaços de papel picado,
levados pelo vento quente, úmido,
frio, seco, chuvoso, o que for.
Com o tempo, fui aprendendo a rejeitar
a ideia de que algum dia a escrita seria importante,
porque um dia acreditei numa escola
mentirosa e numa academia
fadada ao fracasso social, político, espacial...
São só palavras jogadas ao nada...
Que me causam dor pensar que
algum dia eu poderia ter escrito
algo de tão bom...
E você me pergunta:
Então, por que escreve, se não acredita
nem na primeira letra que é escrita?
E eu lhe respondo:
Não sei, só escrevi para
não ter gastrite no fim do dia.
É isso.