Em nome do ausente
Nomes, sobrenomes,
Não os escolhemos,
São heranças de outrém,
Não nos representam,
São adulterados no trajeto,
Inho, inha, ão, usko, uska,
Adições arbitrárias ao final,
Apelidos, alterações cartoriais,
Não dizem quem somos,
Não expressam o que pensamos,
Não refletem nossos sentimentos,
São formalidades, casualidades,
Por vezes esquecidos ou ostentados,
De grupos minorizados,
Hierarquias socioeconômicas,
Estrangeirismos, vale por quilo?
Anglo-saxão ou latino, grego ou turco?
Da Europa oriental ou africano?
Asiáticos? Em mandarim ou aramaico?
Da Pacha Mama nos Andes?
O nome do Rei, o nome em um brasão,
São posses, o "ter" superficial,
Anedótico, repetitivo, não original,
Grafias erradas, errados na pronúncia,
Quem julga sua beleza ou feiura?
Artificialidades plásticas,
Não emanam nossa poesia,
Não perfilam nossa essência,
São apenas letras, continuidades,
Mas também desenraizamentos,
Que se esvaem no tempo,
O que sobrará além das cinzas?
Só o que somos, fomos, seremos,
Em permanente mutação,
Sorte de quem conhecer para além deles,
De quem compreender o significado do "ser"...