Quem sabe?
Você retornou,
Aquele velho contato,
O e-mail que não usava mais,
Perguntou se eu ainda existia,
Me chamou por meu nome,
Disse que o espelho me mostrava,
Sem máscaras, sem ficção,
Na realidade dos dias claros,
Perguntou por minha jornada,
Se havia alguém ocupando um lugar nela,
Se eu podia te deixar chegar novamente,
Assim, do nada, como um estalo de dedos,
Assim, como o vento soprando as janelas,
Fazendo voar as cortinas abruptamente,
Ecoou seu sorriso torto silencioso,
Espalhando-o pela minha vida já confusa,
As pintinhas nas duas bochechas,
O olhar sagaz de quem brinca com malícia,
A cabelo curto balançando no sim e no não,
Olhei e me perguntei o motivo, a razão,
Porquê os fantasmas sempre voltam?
Para se divertirem? Fazer piada dos vivos?
Você me falou de suas memórias,
De suas saudades não curadas,
Da volta ao mundo para se encontrar,
Da morada em terras geladas para esfriar os sentimentos,
Aquietar a raiva de nada ter saído à sua vontade de menina mimada,
Mas tudo virou do avesso quando percebeu a verdade,
O fio vermelho jamais fora cortado,
A linha invisível do destino,
Você sabia, eu sabia, sabíamos,
Mas fingimos não saber até agora,
Tentamos nos enganar na negação,
Nos agarrando em mágoas passadas,
Após uma década e um casamento você voltou,
Diz que só quer uma chance de fazer diferente,
Escutar meus pensamentos que não saíram de sua mente,
Tocar meus sentimentos que se misturaram aos seus,
Não sabe seguir seu caminho sem me ler,
O livro que mais lhe intrigou,
A história sem fim que lhe assombrou,
Não sabe mais olhar os eclipses sem lembrar do "Feitiço de Áquila",
Mesmo odiando meu gosto por Pink! E eu odiando seu gosto por Marillin Mason,
Nos encontramos em algum ponto da curva dos escritos das poesias,
Nos encontramos em alguma clave de sol de seu Indie Rock,
Na desconexão de essências imiscuidas,
Esperas uma resposta minha para voar até mim,
Bater em minha porta e iniciar o que nunca findou,
Sei que virás mesmo que eu não responda nada,
Porque és um imã que mantém sua atração por metal,
Porque és vulcão e eu sou o estopim que a ativa,
Estou olhando para o eclipse e imaginando,
Como a vida pode ser tão imprevisível,
Como as coisas nunca acontecem como queremos,
Ou como acontecem como devem ser,
Não sei o que te direi "garotinha ruiva",
Quem sabe?
Não sei como reagirei ao ver-te frente a frente,
Quem sabe?
Não sei o que sentirei ao não ter mais para onde correr,
Quem sabe?