SE É PORTO CADÊ O BARCO

Doces tempos eram aqueles

Quando meus ledos sonhos

Cavalgavam altos montes;

E acordava com a alegre cotovia

A cada nascer de novo dia.

Passar tardes soalheiras

À sombra das árvores da ribeira,

E a espreitar perdizes felizes

Em sua sesta costumeira,

A molhar o bico na água fresca

Que corria tagarela para o rio.

Pilhar a raposa matreira

Que não caía na minha ratoeira;

Ó raposa ladina,

Pra sorte tua e consumição minha.

Decifrar o enigma do Porto do Carro

Onde não havia barco nem batel

Era tarefa grande e insana

Para este maluquinho sacana.

Mãos à obra, certa voz a me ordenar,

E, assim, foi construído um batel

Para em turbulentas águas navegar.

Eu e o Carlos, companheiros atrevidos

Já de remos a remar

Desde o porto até ao Poço da Várzea,

Onde a água era mais profunda

Muito acima dos nossos umbigos;

E agora para inveja da malta,

Éramos ricos de classe alta.

Hoje do alto da minha insignificância

Recordo tempos de minha querida infância,

E me sinto tão pequeno!…

Mas para finalizar, eis a máxima

Feita pra gente grande:

-Para se sentir realizado,

O homem deve plantar uma árvore,

Plantei muitas, é facto

Ter um filho,

Orgulhosamente sou pai de três

Escrever um livro, escrevi vários

E construí um barco, sem ser construtor.

Não tive na vida honrarias ou glória

Mas para não dizer, só isso, só!?

Dos meus erros fiz um nó.

O resto é história.

Eduardo de Almeida Farias
Enviado por Eduardo de Almeida Farias em 13/09/2024
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