Carta sem destinatário

No papel sem pauta,

Sobre a escrivaninha,

A folha branca deitada,

Lisa e cristalina à luz do sol,

Desenho palavras soltas,

Curvilíneas letras delineadas,

Rodopio uma constelação,

Entre pontos e traços,

Relevos de paisagens,

Na escrita lenta do tempo,

Horas, minutos, segundos,

Não há perfeição alfabética,

Na semiótica dos sentidos vividos,

Uma dança na ponta do lápis,

Duplos saltos sem esteio,

Tantas histórias sem finais,

Outras com rabiscos emocionais,

Sobre maltraçadas linhas,

De esquecidas missivas,

Na caixa de alumínio do Correio,

À espera de uma longa viagem,

Por estações de estradas sem fim,

Em entrepostos empoeirados,

Para onde irão as narrativas assim?

Para onde irão as ideias com alma?

Aprisionadas em cartas sem destinatário...