Alma de papel
Escrever é comprimir uma ferida, ainda palpitante:
Vertem-se pus e sangue de um’ alma em agonia,
E pela fenda que se abre sopra a vida,
cicatrizando a dor da existência …
A cada verbo que desponta, arde a mágoa
Decifra-se um grito calado da garganta,
Imprimindo nas letras em curso
a matéria invisível da essência
Toda linha que se encerra
arranca um tampo, crava uma marca
no tecido de palavras entrelaçadas
E antes que a tinta acabe,
é preciso embeber a pena gasta
nos veios da alma desbotada