No findar do dia
O Sol cansou, tão só, dormiu nos montes e travesseiros.
Sorriu em demasia, como ouro de brilho, clareou os escombros de almas tristes.
Deu pão ao pobre, o riso dos florais, entre canteiros, fluiu de pássaros e arco íris no céu.
Ninguém percebeu a falsidade do relógio, o complô dos ponteiros, a artimanha das engrenagens.
Esqueceram na praia, o sorriso, o prato, a felicidade que tão é, como um vento em dia quente.
Passou no raiar da manhã, a tarde caiu tão densa, a noite espremeu o fulgor.
Um obscuro sorriso, uma penumbra de sussurros, e nada mais, era tão belo.
Dias belos vão se embora, a noite chega propensa, o frio e solidão faz chorar.
Com os sóis, dormem as luas, os abismos, o céu de criança, o teto sem telha, a alma vazia.
E tudo, tudo vai se cansando e dormindo, um pouco hoje, um tanto amanhã.
Um dedo de prosa, um choro de dor, a dança do louco, a noiva feliz, tudo se esvai, e logo à frente, nada se existe.
O sol cansou, tão só...
João Francisco da Cruz