Eros caído
Vesti-me do manto das estrelas,
Escondi-me nas franjas noturnas,
Eros sem seu arco e flecha,
Buscando sorver a existência,
Um ronronar entre os lençóis,
Uma malícia percorrendo a pele,
Os sentidos arfantes em gozo,
Prazer escalonado em suspiros,
Aroma de perfumes sedutores,
A imaginação conformada em carinhos,
Experimentei a mundana experiência,
Dos corpos entrelaçados em êxtase,
A fantasia dos humanos pagãos,
Que pedem aos deuses almas gêmeas,
Mas não conseguem olhar para si
Para suas imperfeições e desatinos,
Assustando-se quando estas descem,
E encontram-nos na realidade da vida,
Vivi a humanidade de risos e lágrimas,
Os tropeços desequilibrados do álcool,
Sem ver meu reflexo nas vias espelhadas,
Cai ao fundo do poço todo alquebrado,
Minhas asas entortaram no forte baque,
Perdi os sentidos e poderes de voo,
Compreendi que não almejava isto,
Esta incongruência de significados,
De verdades entre mentiras malditas,
De sentimentos tolhidos sem lucidez,
De crenças tolas que se acham reais,
Clamei a Zeus para que me resgatasse,
Me abrisse de novo as portas do Olimpo,
Essas vielas não são para minha alma,
Meu espectro voltou ao lugar de sempre,
Ao pódio dos eternos em observação,
Vislumbrando as tonterias dos seres,
Aqueles que repelem uns aos outros,
Que desconhecem que estamos entre eles,
E às vezes até os tocamos como humanos...