ARTE POÉTICA. III: Midnight Blues
Não adianta cortejar
o verso que não quer se dar.
Inútil emboscá-lo
com vogais suspirosas, vesperais,
ou, com sílabas consonantais,
uma fina malha bordar.
O verso que não quer se dar
tece sua própria alcova,
e nela se deixa ficar.
Tem pouca valia tentar burlar,
na forja de som e tom,
o sendeiro nevoento
do verso que não quer se dar.
Clarão, fulgor, aralume,
centelha solta no ar.
Assim evade o poeta,
em sua alcova de seda,
o verso que nunca se dá.