SUPLÍCIO DE TÂNTALO
SUPLÍCIO DE TÂNTALO
Tento fisgar o poema e não consigo
ouço dele pulsações e gritos
sinto que não está longe
sinto que não está comigo
ele sabe de mim
fauna e astigmatismos
faminto o busco
sedento o persigo
tento apreender o poema e mendigo
o seu pão, a sua seiva, a sua salvação
ele é templo sagrado e me persigno
ele é santuário profano e me despoetizo
não se esvaia, meu poema, não se vá
causas e consequências, crimes e castigos
não me confunda com seus gritos
deixe pinturas e rastros mesmo os proscritos
Tento confiscar o poema e não consigo
rompe-se a ligação, cordão do umbigo
ele não está longe, mora nos abismos
que há por toda parte: linguagem e sentido
ele sabe de mim
que o persigo
ouço dele secas e aquários
varinhas de condão
e até seus arqui-inimigos