Apoema
Busco o implacável no palpável ódio
Que conta o incontável ao Impuro Viver.
Uma canção que sussurra a imagem de seu ser:
Inexista à mercê do furor ilógico.
Procuro minha morte onde um dia eu vivi
E clamo ao Senhor que eu não chore jamais:
Exista a morte onde um dia eu morri
E clamo ao Senhor que eu não viva demais.
Encontro o perdido à imagem do que já fui
E do passado marcado pela lógica imoral.
Possuo a existência de quem já não flui
E retoma seu espírito à dor marginal.
Uma escuridão que mastiga a essência da alma
Que grita sem voz num vazio abissal;
Acalentando seu pescoço em sisal,
Apaga sua inexistência sem calma.
Por isso, remonto o que um dia quebrei
E se materializa numa mórbida paixão.
Entre paredes para que não cause moção:
Sozinho reconheço o meu eu.
Não tento quebrar o que rejunta meu coração;
Não tento rimar para que se tenha uma função;
Não tento escrever para que se expresse uma emoção;
Não tento estruturar uma breve canção;
Não tento registrar um mero bordão;
Isso não é um poema.