Sujeito não-lírico
Sou veterano principiante de poesia
Sou o adolescente de versos
suspirados pela garota inalcançável
o estudante crítico de gritos rimados
por um mundo tão distante quanto o amor
o adulto de dias apertados com brechas
fugidias para salvar-se nas palavras
Conheci tantas vidas que não conheço
Meus pés dançam em palcos estranhos
e meu coração, da plateia, sonha outros
cenários que se enfeitam de poemas
O espelho me recorda que o tempo existe
e, lá do meu abismo, uma voz pergunta
“como assim?” - e volta a dormir na poesia
Vou tateando a vida em cegueira dessabida
Não entendo e desconheço quem entenda
A poesia se dispensa, pois não pretende saber
Ela apenas me acompanha no vazio do querer
e em todos os outros quereres, desses que só
os poetas, mesmo os que não são, desejam
E eu não sou. Mas meu peito nem liga e sorri.
Quero terminar, mas Quintana tem boas reticências
“Enquanto o poema não termina
a rima é como uma esperança”
Pensei aqui, Quintana, que a poesia
não precisa acabar na última linha
Então, vou descer da montanha e
pegar outra pedra - há tantas no caminho
Sou principiante veterano de poesia
e que possa principiar até o verso final,
até não ter mais montanha para subir,
até deixar o palco que o tempo sempre muda
e me encontrar comigo mesmo na plateia
Mas tenho o mal de poeta que não sou
e desejo poemas que não morrem e
…