ruminação

fernando,

ainda sinto a década anterior

em cada passo que dou.

seria culpa dos lugares que ainda visito?

seria culpa das pessoas que ainda vejo?

seria culpa das páginas que ainda leio?

as cidades não mudaram quem sou,

e as bebidas me compreenderam

a cada gole

com os olhos do garçom acompanhando

minhas mãos, meus lábios, e meu desejo

esperando algo a mais de um fim de semana.

fernando,

sua mentira doeu mais que a verdade.

como você fez isso? eu deveria voltar

a confiar nas palavras que já me traíram?

a solidão também é uma resposta,

como você se calou e foi embora

no meio de uma conversa calorosa.

tantos caminhos, fernando,

e você saiu do meu da mesma maneira

que entrou. cruzando uma rua como quem anda

dentro de casa, de um cômodo a outro, da sala

ao quarto e do quarto ao banheiro.

tantos sentimentos, fernando,

e você parece tão vazio. já te disseram isso?

o porquê dessa cara, esse semblante impassível?

tantas foram as madrugadas acordadas

tantas foram as luzes encaradas,

como quem deseja ficar cego

achando que o coração nunca mais

vai tremular.

e o meu coração deixou de ser teu

naquele fatídico outubro. e pertenceu ao sereno,

rodeado por frases egoístas e bebidas doces.

e agora você sabe da dor do dia seguinte

ao acordar e ver a cama tão vazia

quanto as frases bêbadas já ditas.

fernando, eu deveria parar com isso.

Cleber Junior
Enviado por Cleber Junior em 27/02/2023
Código do texto: T7728783
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