Extraordinário

Cada palavra dessa não se explica

Tudo que prevalece são imagens

Há um peso e uma deformidade

Para cada palavra que insiste em entoar

Cada letra tem um cheiro particular

Cada letra carrega uma memória

Cada letra feia, no espasmo dos meus dedos

Cada letra carrega intenções próprias

Desconheço o coração escarlate

Oração oportuna ao tapa-sexo

O divã escavado com unhas quebradas

Virilhas em degradê pulam de bocas

Degradada voz faz um funeral

Entre trovões vencidos e eletricidade mofada

Tudo é um jogo de antônimos e sinônimos

Misturar e corromper uma água oleosa

Eu não sei vencer as páginas, nem sei se deveria

A dança desocupa quartos e vieses

Tal orvalho inorgânico do fim de noite

Escorre uma substância amarelada e amarga

Cor de anemia, cor de verão

Cor de pus, cor de tédio

Cor de vitória magra, cor coagulada

Cor de fotos velhas, cor de promessa

Escafandros hesitarão em títulos longos

Leitores de planilhas sofrem de prosopagnosia

Não é adequado, mas há um precipício

Olhando de volta para cada olhar curioso

Tudo oscila entre consultórios e banquetes:

Mesclar ficção e sonho, imergidos na pele

Assombrar percepções híbridas do corpo

Negar-se enquanto oferta-se ao público