D'OUTRO POEMA xx
Porque existo
Penso, transpiro
Regurgito as palavras em que me inspiro
Tratado, traído
Cada frase é uma existência plena
Que eu transmito
Como os poetas, doidos varridos
Que de poesia tem pouco
Mas de muito têm louco
Como os viajantes fazem
Não percorrendo a estrada
Mas fazendo de sua história caminho
Assim é aquele que viaja
Vai de muitos acompanhado
Mas na senda anda sozinho
Cada um é uma persona
Cada persona é o outro
Teve dias em que fui aquilo
Os que não fui, sendo d'outro
Cada verso que proponho
Já foi meu puro desgosto
E meu assombro
Reverso do próprio espelho
Reflexo meu invertido
Cada verso é uma afronta
Cada estribilho é fingido
Mas o poema deveria a teus olhos parecer falso
O Inverso da própria lucidez transmutado em loucura
Deveria a teus olhos parecer uma coisa
E não mudando o sentido se camuflando em outra
Simultâneo
Assíncrono
Nefasto
Insano em sua insensatez
Um desastre
E esse poema saiu
Um insulto à permanência
Mas deveria nunca ter sido invocado a se materializar nessa existência...
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