Tormenta imóvel
Qual de vocês toma essa transbordante taça de vida como se fosse um oceano, e trepida quando dorme a primavera como se fosse um náufrago,
Qual de vocês leva em seus ombros todo esse universo de palavras e dicionários, de segredos e sonhos mal contados,
Talvez compartimos esperanças esperando verdades e prólogos nesse último manjar de sílabas enterradas entre lembranças e fragrâncias maternais,
Qual de vocês tem essa irremediável criatura que come palavras e cospe fogo,
Que se perde no céu solitário, como uma melodia de floresta e relva,
Como uma tormenta imóvel de amor que vem com essas últimas aves.