O VÁCUO INFINITO DO EU-POETA
O poeta só se vive quando
a dor não cabe em si.
A sua dor é o princípio
que dá vida ao poema.
E depois que borra
o papel de sutilezas
e se esconde nas entrelinhas
dos espaços em branco,
constrói mistérios que
o leitor nem suspeita:
não porque não sabe ler,
mas porque mistérios só se vivem
quem sabe ler a alma das palavras
e não a alma do poeta.
Eu existi apenas naquele intervalo:
da primeira linha à última,
reticenciada...
porque nada está acabado.
Tudo é um recomeço sem fim,
assim como eu-poeta estou perdido
no vácuo do infinito.
Deixei de existir no agora.
Eu não existo:
existi, pois, junto às palavras
que saíram impulsivamente
naquele outono breve,
em que me despi
de todas as vestimentas,
em que gritei para dentro
e ouvi o papel.