O VÁCUO INFINITO DO EU-POETA

 

O poeta só se vive quando

a dor não cabe em si.

A sua dor é o princípio

que dá vida ao poema.

 

E depois que borra

o papel de sutilezas

e se esconde nas entrelinhas

dos espaços em branco,

constrói mistérios que

o leitor nem suspeita:

não porque não sabe ler,

mas porque mistérios só se vivem

quem sabe ler a alma das palavras

e não a alma do poeta.

 

Eu existi apenas naquele intervalo:

da primeira linha à última, 

reticenciada...

porque nada está acabado.

Tudo é um recomeço sem fim,

assim como eu-poeta estou perdido

no vácuo do infinito.

 

Deixei de existir no agora.

Eu não existo:

existi, pois, junto às palavras

que saíram impulsivamente

naquele outono breve,

em que me despi

de todas as vestimentas,

em que gritei para dentro

e ouvi o papel.

Kélisson Gondim
Enviado por Kélisson Gondim em 24/08/2022
Código do texto: T7589490
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2022. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.