Umbra - Cena - III
Eu sou Umbra,
o que escreve com linhas,
tortas,
em casas sem portas.
Eu sou Umbra,
quem não tem moradia,
o que acorda,
no sonhar.
O que subverte o que escreve,
destrói papéis,
construindo canetas,
o que anda sem pisar.
O que voa,
sem as asas,
o movimento de bater asas,
começar.
O que escreve sem ler,
o que não fala,
mais diz tudo,
com o pesar.
Sou o poeta,
que destrói o poeta,
pois ele não é poeta,
muito menos eu.
Sou a brisa que caiu do ar,
sou o escritor apocalíptico,
que destrói o escritor,
e com cara de pau.
Vou já livraria,
com um sorriso cínico,
um livro comprar,
para que ninguém volte a ler.
Sou o devorador,
do conhecimento,
que uso no fermento,
do bolo que não vai fermentar.
Sou a antitese,
da tese,
que o homem vai querer,
na oratória mostrar.
Sou a tese que feliz,
o homem vai mostrar,
a quem dedicou vida,
mais não vai passar.
Sou o escritor poeta,
que pula a janela,
pois nem poemas,
nem poesias quer formar.
Sou a corrupção do pensamento,
sou o caos da forma cheia,
a colapasar,
sou o sem vergonha.
Quem aonde proíbe,
nudes eu nu,
irei ficar,
sou a lei.
Aonde a lei não deveria estar,
sou a justiça,
do pobre escritor,
que nunca vai chegar.
Sou o milionário,
um dia antes de morrer,
sou a tragédia,
clássica.
Sou a chave do Apocalipse,
mais por safadeza,
essa chave não vou girar,
os mortos não vão voltar.
Sou o caos amorfo,
estrondoso,
sou o que o poeta escreve,
e sua mente não vai formar.
Eu sou o poeta que pulou,
da janela do horror,
porque a porta estava aberta,
mais pela porta não vou.
Eu voo mais alto que a besta,
que Perseus foi lutar,
contra Andrômeda,
foi salvar.
Mais também sou a besta,
que matou a outra besta,
sou horrofico,
sou tóxico.
Sou o Mercúrio,
Urânio,
Polônio,
Tório e Radônio.
Prepare-se mundo,
para minha declaração,
escrita em minhas asas,
púrpuras!
O não poeta,
e não escritor chegou,
trazendo a escritura,
esquecida do abismo.
Largada no Hades,
esquecida no Tártaro,
dançando vestes estelares,
com uma coroa de névoa negra.
Que roubei de Nyx,
prepare homem,
para a noite escura da alma,
aonde eu acho a Graça.
A dança,
da noite de Brama me chama,
te chama,
dance a dança.
Essa é o metapoema,
do poema,
do escritor, não escritor,
do poeta, não poeta.
Do que não fala,
mais exclama,
o que não dorme,
mais no sonho anda.
Palmas,
palmas,
Para a fantasia do Nada,
e esse poema.
Conturbado,
nunca acaba,
as estrelas vao bater,
o céu vai morrer.
E eu vou continuar a escrever,
sou o abismo de Niet,
sou o olho de fora do abismo,
sou você e Niet.
Eu olhei o abismo,
e ri,
porque o abismo,
seu tolo é aqui.
O homem olha o homem,
e se torna outro homem,
por isso escolhi a opção,
de Não Ser.
Contemple,
o infinito poema,
do abismo,
contemple...