CHORA , MEU CANTO

Minha poesia chora

O triste momento

De agora !

Prepara a lira!

Pelo voz do vento

Entoa seu lamento,

A seta da dor, desfira,

Capricha na mira,

Mas não pinte o alvo,

Depois, atire a fecha

Que a alguém fira!

Chora, meus versos!

Nos reversos

Da cólera, trema!

Não há poema

Que amenize a agonia!...

Morre a melodia,

A elegria

Finda quando não se tem amor ,

A flor

Perfuma e embeleza,

Mas não suaviza

A dor.

O assobio

Da brisa

Dá um gostoso arrepio

Na pele, encanta,

Traz à alma alento,

Mas ao peito não consola!

Tira a beleza

Pela vida afora!

Magestoso, engalonado,

Em festa ,

Ao redor da natureza

Que mais espledor

Lhe empresta,

Solto, apaixonado,

0 sabiá

Encolhido no verde galho,

Tiritando de frio,

Enharcado pelo orvalho,

Cala o trinar

Quando a sabiala vai embora!

E nesta hora,

Até a natureza chora!

Todo meu canto,

Nesta hora chora!

Pela voz da lira

Me consola,

E uma pungente

Inspiração tira

Do peito e da alma

Deste poeta

Que se fez tão triste,

Como é triste

A noite de um céu sem lumes,

Aos queixumes

De um coração

Em fim de festa !

Nada mais resta

Da ilusão

Que a alma

Me alentava,

Quando em êxtase eu cantava

Em louvor à vida!

Nesta passagem dolorida,

De mágoa inclemente,

A gente

Chora, em vão

Lamenta uma afeição

Que morreu sem cantos,

Sem festejos e sem palmas!

Era tanto

Que eu contente ,

Feliz, sorridente

Cantava

Ao hino da esperança ,

E vi morrer

Meu sonho de bonança,

Como o "pobre que sonha

Demais e não tem nada",

E pela longa estrada

Do viver,

Só apanha!

Há tanto encanto

Na natureza!

Tanta beleza!

Tanto esplendor!

Tanta harmonia

Na Obra do Criador

Entre os elementos!....

Os céus, soltos no espaço,

As nuvens, quais flocos

De algodão

O horizonte

Enfeitando ,

As estrelas no firmamento

Seus dourados lumes,

Em cascata de luzes

Douradas, despejando!

As verdes matas,

O luar

Cor de prata,

No espaço infinito

Ao romper da madrugada,

A brincar

De Esconde Esconde

Com as nuvens ,

Entre a neblina

Se esconde!

Contente, saltitante ,

Em arpejo

Mágico a sorrir , a delirar

De contentamento

O luar prateado

Na face da praia,

Deposita um terno beijo,

Quando o infante

Loiro no horizonte

Já desmaia,

Festejañdo

A noite já chegada.

Tanta graça dada.

A dádiva de Deus

Em Sua Infinita Bondade

Ao homem, a conceber

A graça de com sua genialidade

Fazer valer

Seu gênio da criatividade,

Donde cria as mais

Fantásticas engenhocas,

E impulsiona a máquina

A distâncias percorrer

Nas águas, na Terra , no ar!

Tanto encanto!

No entanto,

Tudo destoa!

O mesmo homem

Que concebe inventos

Para o bem da humanidade,

Que de uma fagulha

Faz um fogareu,

De uma ventania, fortes ventos,

Se perde na fogueira

Das vaidades,

E a maldade,

E as besteiras,

E as asneiras,

O dominam então !

De pedra, o perverso coração

Do homem,

Se compraz no escarcéu

De horrores,

Rir do infortúnio alheio,

Das necessidades, das dores ,

De algo tão horrendo, tão feio --

A fome,

Se regozija

Ná cobiça pelo ouro,

A juntar na Terra tesouros .

Na atrocidade

Inata em si, mergulha!

O Cristo vende

Por 30 moedas de prata!

Provoca calamidades!

Dá causa ao caos,

Dá causa à fome!

Rouba. Mata.

Trai . Atraiçoa .

Fala em religião.

Mas apunhala Jesus .

Cospe na cruz !

Só se realiza

Sendo o próprio

"Lobo do homem !"

O homem

Que destrói o homem!

Chora, neu canto!

Vai pelos cantos

Dedilhando a lira,

A chorar, a sorrir!

Nos versos tira

Inspiração pra vida --

Sem fingido pranto,

Sem disfarçar

A mágoa sentida!

Vai pela vida ,

A chorar , a sorrir!

Hoje, encantos.

Amanhã, tormentos

Pela vida afora!

Meu canto, chora!