MEU DOLENTE CANTO

Quis fazer um poema ameno

Que falasse de flores,

De crianças brincando,

De alegria, de esperança,

Uma poesia

Que viesse do fundo da alma,

Que alentasse nos corações

Delicados amores;

Quis cantar, da natureza,

Todo o encanto,

A sublime beleza

Ímpar, que infunde

Paz e tranquilidade

Ao coração da gente,

E, emocionado tanto,

Do amor, quis fazer um trono,

O meu mais expressivo canto ,

No entanto,

Meu canto,

É pranto,

A poesia

Que encanta e extasia,

Sua fantasia

Não enche barriga vazia.

Meus versos líricos,

De protestos, de amor

E satiricos,

Pueris composições

De um poeta sonhador

E delirante,

Fechando às vezes

Com chave de ouro,

E às vezes engatando a rima

Que imprima

Suavidade ao verso,

Ou que destoa

Em tom de acido humor,

Falam de beleza

E expressam todo esplendor

Da natureza,

No entanto, volta-me o pranto

Dorido tanto

Qu, não disfarça a dor

Que o meu peito oprime

Ao assistir ao crime

Que todo sentimento

De bondade deplora,

E que é pivô

De toda infâmia

Que no mundo aflora --

A fome!

Meu coração freme,

De cólera treme,

Em ânsias loucas

Protesta, e meu grito

Ecoa no infinito

Da indignação:

Não almejo ouro ,

À mesa, farta alimentação,

Banquete, ostentação,

Enquanto em outras pobres

Mesas, nem as migalhas

Das lautos banquetes sobram

Para a fome, lhes saciar.

Não quero nenhum tesouro,

Se com todo meu ouro

Não puder alimentar

Tantas famintas bocas!