POEMAS IGNOTOS.
O engenho, a sensatez, o juízo oculto
Traçam descrições nítidas pendentes.
Penetram no tino, abstrai-se o vulto
Dos poemas emudecidos e carentes.
Estes poemas sujos, vis e secretos
Vagam na fluidez livres das mentes,
Onde se acumulam livres decretos
Débeis, invisíveis como sementes
Improdutivas, podres, deficientes,
Que se derreteram como dejetos.
Gametas fúnebres, abortados,
Nos encéfalos fúteis, dementes,
Vômito dos patetas decadentes,
Vistos às vezes pelos desvairados.
Esses poucos malucos fluentes,
Penetram nas fornalhas quentes
Arriscando morrerem torrados
Muitas vezes são abominados.
Tenho dó de quem os detestam,
Não veem os bens conceituados,
Nada percebem, nem contestam.
E às vezes gritam e protestam,
Os acéfalos rudes, retardados.
Escondida na massa e no vento,
A poesia penetra surdamente
No poema, como o arrebol lento,
Onde a luz ofusca sutilmente,
A imagem da alma independente,
E a ideia sutil do pensamento.
O tempo é uma bola louca
Que gira sempre para frente.
Não tem sossego. Na pouca
Esperança viva e decadente,
A poesia se esconde afetiva,
Na órbita invisível, alusiva
Na alma do poema cadente.
O poema canta rijo, solitário,
À paixão amada, a poesia.
Lá no fundo do imaginário,
A voz maluca da melodia,
Delira solitária seu itinerário.
E no centro dos motejos
Ele penetra seus desejos
Ora a favor, ora ao contrário.
Na base sólida bem profunda
Da alma vidente da palavra,
No íntimo da essência fecunda,
Vive o miolo puro, sem trava.
Movimenta-se imperceptível.
E, na astúcia da arte incrível,
Age sutil, nem mansa nem brava.
Não interessa se forem fúteis, secretos e ignorados.
O que importa são os sentidos, os sons, os significados.
Caminha entre eles, envolvendo-se sutil todos os lados
Dos pingos amargos ou doces, polutos ou destilados.
Antonio OnofreGF, em POEMAS AFLITOS,
Teresina-PI, 2022.