Escravo da forma
Sinto-me, como artista,
escravo da forma.
Das artimanhas meticulosas
de rima, de ritmo, de metonímia
de neologismos fecundantes
e versos que borbulhem
explodam, naveguem e flutuem
como parte da mensagem
e não a mensagem sozinha.
Quando me atiram apenas substância,
ainda que provocações espertas, alarde
atingem-me como um disparo vazio
de arte, um disparate.
Sei que há valor, porém,
em diamante não lapidado.
Ainda que não sirva meus dedos,
Ainda que não sirva a vaidade,
substância sem forma é mensagem
forma sem substância; bobagem.
Mas eu, bobo que sou,
das cores, dos timbres, das coisas belas
permito-me versos raquíticos,
permito-me anéis sem pedras.
Crias de orgulho, cínicos,
perdidos em passarelas.