Português moribundo
John, me diga, cadê João?
Entre tantas Dayanes e Daiannas
Perdi de vista uma autêntica Diana.
Está em curso um tipo de destruição;
São muitos Maicons, poucos Michaels
e já quase não resta nenhum Miguel.
A cada registro de uma Stephanie,
Em câmera lenta morrem duas Estefânias;
Adeus Augusto,
Descansem em paz Bandeira e Pessoa,
O canto que minha garganta entoa
É lamento já sem vocabulário,
É choro desidratado de cultura,
Já é poesia esta desestrutura,
Mal vestida em letras de trapos,
Não me interessa reenfunar papos,
Não se critiquem mais os poetas,
Tampouco os exegetas,
Que morte inglória é a de uma língua,
Deve-se ao povo que se cala, ou nem sabe o que fala,
Já vai agora o Português à míngua,
A literatura toda agoniza, a poesia já morreu bem antes.
Incensados agora são os ignorantes,
Quanto pior, melhor. Quanto mais belo mais feio.
Quanto mais eu resisto, maior meu desgosto,
Mas é guerra, na defesa do idioma, assumo meu posto.
A espada que afio, que corta e retine,
que grava no peito, em letras doiradas,
que versa, que clama, que detalha e define,
Poesias entalhadas, dizendo a quem souber ler,
Exatamente o que foram concebidas para dizer.