A ordem tácita nas coisas

Fosse de barro o meu poema era mais fácil, mas de papel (quem dera de seda) a página em branco (uma estação sem ninguém e tão alegre!) é arengosa, quase uma conversa:

"Por que o gosto do jardim nas lágrimas que escrevo?"

- Lá eu sei!

"É rosa ou verde o horizonte?”

- Pergunta pra quem fez!

"Ousamos implorar às pétalas que falem?"

- "Lhes reservo o direito de permanecerem em silêncio" (STF).

Oxi! Como fala uma folha em branco!

Mas de barro ou de papel, há uma ordem tácita nas coisas:

Primeiro desperta o verso, depois os barcos, as flores, aos canteiros, em grupos de doze, depois as luzes nas torres das igrejas, nas árvores, depois em todo o chão e onde houver telhado.

Proclame-se,

Macapá, 04 de agosto de 2021