O Poema e sua Poesia
Encontravam-se um dia
O poema e a poesia
Num estado de torpor.
Ele deprimido,
Cansado,
Magoado.
Ela triste,
Infeliz,
Descontente.
amuaram-se assim
Por dias e dias
Sem nunca ter fim.
E um e outro
Começou a reclamar
De poema e poesia não encontrar.
E procura aqui e ali
E ninguém conseguiu perceber
O que estariam os dois a fazer.
Ora!
É só piti de artista!
Dizia a mulher cambista.
Ora!
É caso de amor mal curado
Dizia o jovem soldado.
Ora!
É mal que se cura numa mão de tinta
Dizia o pintor letrista.
Ora!
Não há nada demais
Em um dia de menos.
E não é que esse último foi sábio
No outro dia
Já estavam bem
O poema e a poesia.
Ora!
Saíram de mãos dadas
A encantar, alegrar e emocionar.
E eu aqui vou já é sair também
Aproveitar a vida
Que só tenho uma.
Francilangela Clarindo
In Som de Poetas. Colectânea de Poesias. Papel D'Arroz Editora: 2015. Portugal. Pág. 138 e 139.