ÀS PAZES COM O PASSADO

O céu jocoso da minha boca

não voltou à refletir o pitoresco,

como ontem refletiu essa louca

sensação fulminante, olhar dantesco,

os dissabores da angústia, desamor.

Ilusão permeia os meandros

ásperos de minha solidão, tenro açoite.

Tão abrasadora quanto essa natureza

explosiva, em mim! Oh, decepção!

Todavia, tão carinhosa essa pureza

quanto os beijos suaves da noite.

Roubei meus próprios sonhos vividos

na busca incessante pela liberdade,

desmanchei toda aquela santidade

arrefecida no altar da mente, meu instinto.

Improvável provar o gosto amargo

que senti ao deixar morrer desandado

aquele sentimento de animal inocente.

Tanta fúria dilacerou o meu peito,

e por consequência, tive como efeito,

o desarmar descontrolado da defensiva,

a qual desmoronei numa queda intensiva

na esperança irremediável de ser salvo

por aquele indivíduo, pobre sósia inventado.

Julguei por muito tempo, e fui julgado,

consumido pelas chamas infernais

do meu silencioso rugir enclausurado.

O final ninguém lembrará decerto,

isso é fato consumado aos demais

enquanto o destino é rumo incerto .

Desconheço quem fui tão cedo,

talvez destruí tudo por medo

da volta ser ainda mais devastadora.

E, então, limpar às chagas, sina inventora

até que elas curem minhas feridas

resultante das memórias ressentidas.

Hivton Almeida
Enviado por Hivton Almeida em 16/01/2021
Reeditado em 07/07/2021
Código do texto: T7160836
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