ÀS PAZES COM O PASSADO
O céu jocoso da minha boca
não voltou à refletir o pitoresco,
como ontem refletiu essa louca
sensação fulminante, olhar dantesco,
os dissabores da angústia, desamor.
Ilusão permeia os meandros
ásperos de minha solidão, tenro açoite.
Tão abrasadora quanto essa natureza
explosiva, em mim! Oh, decepção!
Todavia, tão carinhosa essa pureza
quanto os beijos suaves da noite.
Roubei meus próprios sonhos vividos
na busca incessante pela liberdade,
desmanchei toda aquela santidade
arrefecida no altar da mente, meu instinto.
Improvável provar o gosto amargo
que senti ao deixar morrer desandado
aquele sentimento de animal inocente.
Tanta fúria dilacerou o meu peito,
e por consequência, tive como efeito,
o desarmar descontrolado da defensiva,
a qual desmoronei numa queda intensiva
na esperança irremediável de ser salvo
por aquele indivíduo, pobre sósia inventado.
Julguei por muito tempo, e fui julgado,
consumido pelas chamas infernais
do meu silencioso rugir enclausurado.
O final ninguém lembrará decerto,
isso é fato consumado aos demais
enquanto o destino é rumo incerto .
Desconheço quem fui tão cedo,
talvez destruí tudo por medo
da volta ser ainda mais devastadora.
E, então, limpar às chagas, sina inventora
até que elas curem minhas feridas
resultante das memórias ressentidas.