INÍCIO 1/2 E FIM

No início da madrugada

os sonhos semi despertos de alguém embriagado

são ecos adormecidos na mente dos desamados

são frases que resvalam na semi sobriedade

são agulhas espetadas no duro cerne da razão.

No início da madrugada

o trago é o consolo que faz esquecer das Dores,

das Graças e das Aparecidas

Marias frias afogadas na aguardente

que dissipa a mágoa e faz a lógica parecer banal

No meio da madrugada

vive-se, ama-se assim meio às pressas

com medo que o porre passe

e a luz do dia mostre verdades boas de não serem vistas

pra não estragar o doce gosto da ilusão

No meio da madrugada

o feio se faz belo na indistinção das formas

o abstrato se faz concreto no céu da imaginação

onde estrelas passeiam tornando o mundo menos óbvio,

mais limpo, mais fresco, e menos sério

No fim da madrugada

fadas, duendes, bruxas e gnomos

travestis, lésbicas, bêbados e toxicômanos

ladrões, jogadores, prostitutas e cafetões

são sonhos e fantasias de uma vida irreal

No fim da madrugada

as sombras se desvanecem fustigadas pelo dia

os notívagos, quais vampiros, se recolhem aos seus caixões

pois a pior consequência do dia é a claridade

na qual pode enxergar-se, tudo aquilo que não se queria ver

Aldo Silva

Aldo Silva
Enviado por Aldo Silva em 27/10/2020
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