INÍCIO 1/2 E FIM
No início da madrugada
os sonhos semi despertos de alguém embriagado
são ecos adormecidos na mente dos desamados
são frases que resvalam na semi sobriedade
são agulhas espetadas no duro cerne da razão.
No início da madrugada
o trago é o consolo que faz esquecer das Dores,
das Graças e das Aparecidas
Marias frias afogadas na aguardente
que dissipa a mágoa e faz a lógica parecer banal
No meio da madrugada
vive-se, ama-se assim meio às pressas
com medo que o porre passe
e a luz do dia mostre verdades boas de não serem vistas
pra não estragar o doce gosto da ilusão
No meio da madrugada
o feio se faz belo na indistinção das formas
o abstrato se faz concreto no céu da imaginação
onde estrelas passeiam tornando o mundo menos óbvio,
mais limpo, mais fresco, e menos sério
No fim da madrugada
fadas, duendes, bruxas e gnomos
travestis, lésbicas, bêbados e toxicômanos
ladrões, jogadores, prostitutas e cafetões
são sonhos e fantasias de uma vida irreal
No fim da madrugada
as sombras se desvanecem fustigadas pelo dia
os notívagos, quais vampiros, se recolhem aos seus caixões
pois a pior consequência do dia é a claridade
na qual pode enxergar-se, tudo aquilo que não se queria ver
Aldo Silva