CALEIDOSCÓPIO

A poesia esta tatuada em mim, literalmente,

Nela me inscrevo, subconscientemente,

Tanto quanto ela em mim se inscreve.

Sorvo o sabor do saber que inebria meus sentidos

E, alucinadamente, devaneio pelos meandros da existência,

Busco a sapiência, intermedeio experiências,

Absorvo essências de personalidades instáveis,

Com um toque indelével de sensibilidade à flor da pele,

Que me faz sentir-me viva, pulsante,

Mas nada que me revele.

Sou obscura,

Turvo meus pensamentos na insatisfação de meu superego,

Deleito-me, não nego,

Mas a inconstância de meus pensamentos

Cria um caleidoscópio de ideias mirabolantes,

Às vezes, serenas, outras, delirante.

Comprazo-me na fantasia de existir além de mim

E extrair ardência dos sentimentos alheios,

Por meu globo ocular embaçado pela falsidade

Que sinto tão pulsante a me vigiar, com anseios de me punir

Por espreitar a alma e a mente humana sem pedir licença.

Destituo-me da emoção para não absorver todas as dores do mundo,

Já não suporto as minhas, mas a razão impera para que eu me fortaleça

E possa hastear o pendor de minha insanidade,

Com o fluir de meus conceitos circunscritos em minha mente agitada,

E transcritos no alvo lençol que encobre uma mente perturbada

Pela consciência da realidade que é, telepaticamente,

Transportada a uma dimensão inatingível,

Onde só há o vazio de estar com a memória envolta em uma cortina nebulosa Que não deixa transparecer um sinal de esperança,

Nem abre perspectivas de mudança,

Sinto ultrapassar a lança do desespero e já não sou eu.

Atrevo-me a discorrer sobre relações fugazes,

Sobre a incoerência social que enlouqueceu todo mundo,

Na isca de prazeres imediatistas, sob qualquer ponto de vista.

Para, sob meu olhar vazio, sobrepujar a espécie humana,

Corrompida de seus valores e ideais e execrá-la publicamente,

Travesti-me de luz para elucidar mentalidades abduzidas de ética, Preocupadas com a estética, com a beleza esquelética,

Com a comida dietética, insípida e insossa,

Visão apocalíptica de uma sociedade apoplética.

Poema publicado no livro "Não diga que a poesia está perdida (2016)

Cleusa Piovesan

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Cleusa Piovesan
Enviado por Cleusa Piovesan em 17/08/2020
Código do texto: T7037778
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