Comando

O poema quando nasce

vem sem pressa e espontâneo

aterrisar na folha

de papel em branco

como uma espaçonave

a desembarcar palavras…

Cada palavra, todas.

Todas as palavras, uma.

O poeta tem que ter calma, resiliência,

paciência, amor pelo que faz e sabedoria

para não brigar com as palavras nem irritá-las;

apenas seguir seus comandos…

As palavras falam:

- Sentido!

O poeta espera;

- Descansar!

O poeta, vírgula.

- Marche!

O poeta vai.

- Auto!

O poeta para.

- Meia volta! Volver!!!

O poeta volta.

E elas não gostam de serem comandadas

por um autor impaciente e sem inspiração..

O poeta fala:

- Sentido!

As palavras reticenciam-se…

- Descansar!

As palavras: dois pontos;

- Marche!

As palavras param.

- Auto!

As palavras vão.

- Meia volta! Volver!!!

As palavras seguem em frente

e se perdem na megalópole

das variedades do infinito.

E aquele poema suado,

pensado, trabalhoso e demorado

nunca mais será escrito.