VIAGEM AO SOM DE FOLHAS

Trago n'alma folhas brancas,

Folhas desenhadas, pintadas, escritas

E folhas caídas, sopradas pelo vento.

Algo instou tal folhas a serem francas,

Houve mensagens findas e infinitas,

Escritas queriam abolir o momento.

Todo aberto a discursos e novas ideias

Adoro ser manuseado, folheado,lido.

O coração derrama sobre as linhas

As mais variadas das panaceias.

Letras,palavras, períodos como adidos

De uma ramagem leve com gavinhas.

Talvez se minhas palavras feitas ventos

Soprados por enternecidas cordas vocais

Pudessem expressar de fato os sentimentos

E nas trilhas guiariam qual chacais.

A fronteira, Transpô-la demanda arte,

Que pode vir em ondas telepáticas -

Estas nos permitem estar em toda parte-

Desafiam todas equações matemáticas.

Certo mesmo só possuir cactos por testemunhas,

Mas desertos são prolíficos de luz e energia,

Neles fáceis os deslizes sobre as areias...

Não como a argila onde textos se cunha:

Seja no frio da noite ou calor do dia

Textos se expandem e ninguém os cerceia.

Ideias e sentires afixados em pergaminho

Cederam vez a finas folhas de papiro.

Sempre o anseio mental de falar sozinho,

Todos alvos atingidos quando miro.

O tempo congela-se a cada passo que descrevo,

Autor e leitor fixarão a linha direta

Neste parto que, sem obstetra,

Transfigura-se em luz, como num enlevo.

Textos incisivos deitaram terra ao diz que diz

Ou fogo à lenha de ideias condutoras de revoltas;

Suprimiram oralidades infiéis e malsãs,

Intentavam fazer do homem mais feliz:

Mas todas as idas pressupõem as voltas;

Algumas palavras dariam chão, fizeram-se chãs.

Camilo Jose de Lima Cabral
Enviado por Camilo Jose de Lima Cabral em 05/07/2020
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